quinta-feira, setembro 11, 2008

Portugueses descobrem nova classe de bactérias
:: 2008-07-21 Por Jennifer Lopes*



A nova bactéria E.T. descoberta no Mar Vermelho
Uma nova Classe de bactérias foi descoberta no Mar Vermelho por uma equipa de investigadores de Portugal, Alemanha e Estados Unidos. A descoberta da última Classe de bactérias data de há mais de 20 anos.
A investigação foi iniciada em 2004. Depois de várias expedições ao Mar Vermelho, que permitiram estudar a localização das fossas salinas e a sua composição química, os cientistas recolheram organismos do fundo das fossas salgadas, a 1 447 metros de profundidade, onde não há luz nem oxigénio. Foi a primeira vez que organismos foram recolhidos do fundo do Mar Vermelho.
* Jennifer Lopes é a nova colaboradora de Ciência Hoje

Os microrganismos foram posteriormente isolados na Alemanha, com a colaboração de Robert Huber e do seu grupo da Universidade de Regensburg, tendo a caracterização sido concluída por uma equipa da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), coordenada por Milton Costa, professor do Departamento de Bioquímica, e por André Antunes, do Centro de Neurociências e Biologia Celular.
Tal como o explica Milton Costa, “foram isolados vários microrganismos, que representavam espécies diferentes dos géneros conhecidos.” Um dos micróbios que apareceu durante a divisa das amostras é designado no laboratório por E.T. (o nome científico é, Haloplasma contractile). Milton Costa explica o facto de assim ser denominado por apresentar uma “morfologia estranhíssima e diferente de tudo o que é conhecido”. O investigador da FCTUC afirma que basta olhar através do microscópio para perceber de onde vem esta designação. “Os tentáculos encolhem e estendem-se, mexem-se de forma estranha” – descreveu o investigador.
Segundo Milton Costa, o E.T. representa “um grupo que nunca se imaginava que existisse, importantíssimo para o estudo da evolução das bactérias.” O investigador acrescenta que este microrganismo é uma “prova da diversidade microbiana e de uma evolução que vai num sentido diferente de tudo aquilo que é conhecido”. Para além da morfologia, Milton Costa refere a particularidade de estes microrganismos possuírem tentáculos que dão origem às células descendentes, processo que o cientista afirma irá ser estudado.

Necessários anos de estudo
O investigador da FCTUC confessa que ainda se sabe muito pouco sobre este micróbio e que serão necessários muitos anos de estudos para o conhecer e compreender. Milton Costa afirma que há bactérias que são hoje conhecidas, mas que continuam a fornecer informações preciosas. Segundo o investigador, há muitos estudos a realizar, estudos que passam por sequenciar o genoma do micróbio, caracterizar o seu ambiente, perceber a sua mobilidade, entre muitos outros.
Quando questionado sobre se a FCTUC será palco dos estudos e descobertas que se farão sobre a nova classe de bactérias, Milton Costa afirma que “nenhum laboratório tem a capacidade para explorar todas as técnicas a utilizar para estudar micróbios”. O investigador explica que as tarefas serão partilhadas. “Há já um investigador da Alemanha (do Instituto Marx-Planck) a conferir se existe qualquer estrutura intracelular responsável pela mobilidade do E.T.”, adianta. “A forma como os tentáculos se dividem e dão origem a novas células é também um processo que deverá ser estudado”, afirma ainda.
Em termos evolutivos, uma classe representa um grupo de organismos como os mamíferos, as aves ou os insectos. Assim, tal como afirmou Milton Costa, a descoberta da nova classe de bactérias corresponde à descoberta do primeiro mamífero, ave ou insecto. No reino das bactérias são conhecidas pouco mais de duas dezenas de classes, com determinadas características evolutivas conhecidas. A nova classe de bactérias representa mais um destes grupos, mas com características muito diferentes dos outros.
A descoberta foi publicada em Junho no Journal of Bacteriology, jornal de referência da Microbiologia, e está a “agitar a comunidade científica mundial”.

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